Nos posts anteriores vimos que o comportamento AGRESSIVO ignora os direitos do outro, tentando rebaixá-lo ou humilhá-lo. Sua principal consequência é o mal-estar que acaba atingindo a todos os envolvidos. Vimos, também, que o comportamento INASSERTIVO se caracteriza pela extrema inibição e timidez que tende a provocar a perda da autonomia da pessoa, colocando-a numa posição submissa.
Se considerarmos que a agressividade é prejudicial a todos os envolvidos e que a inassertividade traz prejuízos às pessoas que não conseguem se expressar, devemos então encontrar uma maneira de se comportar na qual todos os envolvidos tenham os mesmos privilégios, direitos e, principalmente, “saiam ganhando”.
Essa é a premissa do COMPORTAMENTO ASSERTIVO, um tipo de comportamento que privilegia o direito que todo indivíduo possui de se expressar, sentindo-se bem (sem culpas, remorsos ou arrependimentos), sendo capaz de agir em função de seus próprios interesses, afirmando suas opiniões sem ansiedades indevidas, constrangimentos e sem negar os direitos alheios.
Muita gente, no dia a dia, confunde o comportamento assertivo com o inassertivo, pois tendem a achar que, para ser assertivo, seja necessário concordar totalmente com as outras pessoas. Na verdade a assertividade perpassa mais pelo caminho do diálogo racional e franco na exposição de opiniões e pensamentos, e de negociações necessárias, para que todos convivam da melhor forma possível, independente das opiniões radicalmente opostas. Por exemplo, uma pessoa que torce pelo Bahia pode conviver de forma respeitosa com um torcedor do Vitória, usando o comportamento assertivo. Em um tempo em que tanto se fala sobre conviver com as diferenças, nada melhor do que ser assertivo.
Para entendermos melhor o que vem a ser o comportamento assertivo, que tal analisarmos na prática a diferença entre ele e outros comportamentos?
Imagine o seguinte caso: Paulo é um jovem universitário. Na noite em que comemorava a aquisição do seu carro novo, com os colegas da faculdade, em um barzinho, um deles lhe pede o carro emprestado para apanhar algo em um local distante. Diante desta situação Paulo poderá comportar-se das três formas que tratamos anteriormente:
Paulo demonstra indignação pelo pedido do colega. Diz-lhe “absolutamente não” e começa a censurá-lo severamente por atrever-se a fazer um pedido “tão cretino”. Ele humilha o companheiro e faz um papel ridículo. Mais tarde se sente incomodado e com sentimento de culpa. Já o colega se sente ferido e estes sentimentos manifestam-se posteriormente, tornando a relação entre ambos tensa.
Ele “engole em seco” seu medo do colega danificar o carro e, por não conseguir dizer não, mesmo tendo muita estima e zelo pelo veículo, fala: “Claro, aqui está a chave”. Com isso ele não se sente no domínio da situação e isso estimula o companheiro a fazer mais pedidos dessa categoria futuramente. Paulo fica muito preocupado e ansioso até o colega voltar, desejando que tudo ocorra bem.
Ele contextualizaria, falando do significado do veículo e, gentil, mas firmemente, diria que aquele pedido não poderia ser atendido, pois o carro era novo, com poucas horas de uso, muito especial e que ele ainda não sabia da habilidade do colega ao volante, por isso não emprestaria naquele momento. Mais tarde ele se sente bem por ter sido sincero consigo mesmo. O colega, reconhecendo a validade da resposta de Paulo, passa a lhe admirar, sendo mais honesto e franco com ele.
Nos exemplos acima podemos identificar qual das respostas foi a mais adequada à situação.
Então a assertividade, enquanto conduta a ser adotada na prática traz exigências mais profundas, uma vez que uma atitude assertiva pede a construção de um reportório comportamental bem desenvolvido para sustentar tais posições.
Para ser assertivo é preciso saber o que se quer, conhecer seus direitos e deveres, conhecer seus potenciais e limites, saber expressar-se com transparência, lógica e com boa argumentação. Mas é também necessário ser flexível, saber ouvir o que o outro tem a dizer (com a devida atenção e respeitando seu ritmo) e, sobretudo, ser empático, colocando-se no lugar do outro e procurando entender o contexto. Pensando, principalmente, nas consequências dos comportamentos a curto, médio e longo prazo.
Sei que dito assim parece ser fácil, mas muitas pessoas precisam de suporte profissional para chegar a este estágio de assertividade.
Dia desses vi essa foto na internet e classifiquei a postura destes torcedores do Bahia e do Vitória como sendo significativamente assertiva. Lógico que sei que eles não representam o padrão comportamental de ambas as torcidas, mas esta imagem pode ilustrar bem o que estou tentando demonstrar neste post. Vejam que os torcedores demonstram superar as diferenças e rivalidades dos times e conviver em harmonia (aprece são casados). Muito legal!
Há muitas vantagens quando nos comportamos de forma assertiva. Algumas pesquisas demonstraram que a utilização de respostas assertivas inibe ou enfraquece a ansiedade previamente experimentada em relações interpessoais nas quais já estiveram presentes comportamentos inassertivos ou agressivos.
Uma boa dica para avaliar as vantagens do comportamento assertivo é observar as consequências que ele traz ao nosso contexto, fazendo uma comparação com os efeitos produzidos por outros comportamentos.
Desta forma, um comportamento assertivo, apropriado à situação, aumentaria a auto-apreciação de quem emite a resposta expressando honestamente seus sentimentos. As pessoas tendem a sentir-se mais encorajadas a comportar-se de forma assertiva a partir da postura do seu interlocutor e da sensação de bem-estar que o diálogo e a interação trazem à relação. Há muitas vantagens. Experimente!
Em breve trarei mais posts sobre assertividade.